quarta-feira, 14 de abril de 2010

Navio chinês encalhado ameaça a maior barreira de coral do mundo

O navio chinês Shen Neng 1 continua encalhado na barreira de coral australiana, ao noroeste do país, desde a noite do sábado (03). Ele partia com 65 mil toneladas de carvão e 975 toneladas de petróleo rumo à China. Após desviar 12 km da rota comercial, a embarcação ficou presa. Para evitar que parta ao meio ou seja levado pela corrente, um rebocador está estabilizando o navio com cordas. Houve um vazamento de óleo, que está a ser controlado, mas ainda representa uma ameaça aos corais, um dos ecossistemas mais frágeis do planeta.
As autoridades do país estão a investigar o que fez o navio desviar-se da sua rota e navegar por uma área protegida. A empresa dona da embarcação pode ser multada até um milhão de dólares australianos (US$ 920.000).

Ainda é incerto o tamanho da área atingida. “Dependendo do tamanho e da quantidade de óleo derramado, ele pode dizimar as espécies de uma região”, afirma Fernanda Duarte Amaral, professora da Universidade Federal Rural de Pernambuco (UFRPE) que há 26 anos estuda recifes de corais.

Um derramamento de petróleo pode prejudicar os corais de duas maneiras. A primeira é que se o óleo for suficiente para descer até o fundo, ele pode cobrir os animais e causar uma espécie de sufocamento.
A segunda é que mesmo que o vazamento fique na superfície do mar, ele impede que a luz penetre no água, prejudicando a fotossíntese das algas que vivem dentro dos recifes e servem como alimento aos corais.

Além disso, o derramamento de óleo pode gerar uma reacção em cadeia. “Ele impede a reprodução dos corais; peixes e outros animais que se alimentam deles não terão mais comida; os peixes de tamanho médio irão se prejudicar, pois a população dos pequenos diminuirá; e assim por diante”.

“O recife de coral pode conseguir se recuperar dependendo da extensão e da duração do problema”, explica Fernanda. “No caso do navio chinês, o que minimiza a preocupação é que esse parece ser um stress apenas local”, diz Zelinda Margarida de Andrade Nery Leão, uma das coordenadoras do Grupo de Estudos de Recifes de Corais e Mudanças Climáticas da Universidade Federal da Bahia (UFBA). Ela estima que se o óleo for contido, entre cinco e seis anos a área pode estar recuperada.
O jornal "People´s Daily" divulgou domingo(4), com base em declarações da premiê de Queensland, Anna Bligh, que o navio corria risco de partir ao meio.
A ideia inicial era rebocá o navio, de 230 metros de comprimento, para o porto mais próximo. Mas o objetivo agora é tentar verificar sua segurança e evitar que se parta.
Os proprietários do veículo de carga podem ser multados em até US$ 920.000. Há acusações de que viajava a velocidade muito alta e longe das rotas adequadas.
O governo australiano identificou o Shenzhen Energy Group, parte do grupo China Ocean Shipping (Cosco), como proprietário pelo navio.
Habitats ricos, recifes são "fábricas" de novas espécies. As autoridades detectaram de início, após diversos voos de reconhecimento pela região, várias manchas de petróleo próximas ao navio e "um pequeno número delas a duas milhas náuticas ao sudeste da nave".
O governo local planejava salpicar a região com um composto químico para dispersar as manchas, se as condições meteorológicas permitissem. A ameaça que paira sobre os recifes do mundo significa não só o desaparecimento de espécies hoje, mas uma possibilidade considerável de que, no futuro, não apareçam novas espécies capazes de substituí-las.

Ao destruir esses habitats riquíssimos, portanto, "estamos colocando em risco a criação de futuras espécies", declarou à Folha o coordenador do estudo, Wolfgang Kiessling, da Universidade Humboldt em Berlim.
"A recuperação da actual crise de biodiversidade vai demorar muito mais sem os recifes", afirma Kiessling, que assina o estudo na edição desta semana da revista "Science" com colegas dos Estados Unidos.
A metodologia do trabalho não poderia ser mais simples. Usando um dos principais bancos de dados sobre espécies extintas do mundo, que vai do presente até a origem da vida animal (lá se vão mais de 550 milhões de anos), os cientistas esmiuçaram em que tipo de ambiente novos grupos de animais costumavam aparecer
São um dos ecossistemas mais produtivos do planeta e também um dos mais afectados. Estima-se que um terço já tenha sido destruído em todo o Mundo. Conhecidos como as florestas tropicais dos oceanos, os recifes de coral são hoje vulneráveis a várias ameaças com origem humana.
Alguns estudos afirmam ainda que a subida da temperatura da água do mar, causada pelo aquecimento global do planeta e está na origem do branqueamento dos corais que muitas vezes resulta na sua morte.

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